sábado, 11 de setembro de 2010

Ser

- Prof. Dumbledore... Riddle disse que eu sou igual a ele. "Uma estranha semelhança", foi o que me disse...
- Foi, mesmo? E o que é que você acha, Harry?
- Acho que não sou igual a ele! - exclamou ele, mais alto do que pretendia. - Quero dizer, pertenço... pertenço a Grifinória, sou...

Mas se calou, uma dúvida furtiva surgia em sua mente.

- Professor - recomeçou após um momento. - O Chapéu Seletor me disse... que eu teria sido bem sucedido na Sonserina. E todos acharam que eu era o herdeiro de Slytherin por algum tempo... porque eu falo a língua das cobras...
- Você fala a língua das cobras, Harry - disse Dumbledore, calmamente -, porque Lord Voldemort sabe falar a língua das cobras. Ele transferiu alguns dos seus poderes para você na noite em que lhe fez essa cicatriz. Não que essa fosse sua intenção, mas...
- Voldemort deixou um pouco dele em mim? - disse Harry, estupefato.
- Parece que sim.

- Então eu deveria estar na Sonserina, o Chapéu Seletor viu poderes de Slytherin em mim, e...
- Pôs você na Grifinória... - disse, calmamente, Dumbledore.
- Ele só me pôs na Grifinória - disse Harry com voz de derrota - porque eu pedi para não ir para a Sonserina...
- Exatamente! - disse Dumbledore abrindo um grande sorriso - O que o faz muito diferente de Tom Riddle. São as nossas escolhas, Harry, que revelam o que realmente somos, muito mais do que nossas qualidades.


Este é um trecho de "Harry Potter e a Câmara Secreta" (com alguns cortes, mantendo só o que é importante).
E, se nada mais lhe agradar na série, ela vale ser lida por esse texto em especial.
Este texto reflete duas verdades que poucas pessoas são capazes de enxergar:
Nós somos quem queremos ser, e...
São nossos atos que nos definem, e não nossos pensamentos.

Quando você lê um livro de auto-ajuda, ele vai vir com um monte de baboseira sobre beleza interior e ser uma pessoa melhor por dentro e o escambau...
Isso é uma babaquice.
Do que adianta você ser uma ótima pessoa por dentro, se você não demonstra isso pro mundo?

Veja bem, quando eu falo de beleza interior eu não estou dizendo que ser uma boa pessoa é menos importante do que ser popularzinho... Muito pelo contrário!
Mas, de certa forma, a opinião dos outros sobre quem nós somos é mais importante do que a opinião que nós temos de nós mesmos... É nisso que os livros erram.
A nossa opinião reflete o nosso pensamento, a opinião dos outros reflete nossos atos.

Quando nós morrermos, ou até mesmo enquanto estamos vivos... São nossos atos que dizem quem nós somos.
Ninguém diz:
"Aquele ali é o Felipe, ele pensa todo dia em ir pra África ajudar os necessitados".
Foda-se o que ele pensa... O importante é:
Ele foi pra África ajudar os necessitados? Não? Então o pensamento dele sobre esse assunto é irrelevante... Não mudou o mundo em nada.

O que eu estou dizendo é que não adianta nada você querer ajudar o mundo todo, e não ajudar ninguém.


O contrário também é válido...
Não são nossas "tentações" que nos definem, e sim o quanto conseguimos enfrentá-las...
Sentir a vontade de trair, de roubar, de matar... É muito diferente de trair, roubar e matar.

Ser uma boa/má pessoa (ou uma pessoa inútil) só depende de suas decisões, de suas ações. Não de quem você "é", de quem você "nasceu" pra ser...
Não se prenda a bobagens... Não acredite (muito menos se prenda) nesse papo de "não consigo mudar, é mais forte do que eu"... Tudo é uma questão de vontade.


A única diferença entre ter sucesso e falhar... é a certeza de que você vai conseguir.

4 comentários:

  1. Ótimo texto!

    Mas quem é cristão vai discordar de ti.
    Porque Deus tem poder sobre os pensamentos das pessoas, então, pensar em matar alguém ou roubar é um pecado.
    Muita gente vai à igreja se confessar e diz pro padre: Padre, eu pensei em trair meu marido. O padre vai dizer a penitência e ela terá que pagar para se ‘purificar’.

    Mas se for ver a realidade aqui da terra, esse é o pensamento exato.

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  2. Depois de ficar devendo por um bom tempo minha visita a este tópico, vejamos, digamos que eu concorde com tudo o que você escreveu, e faça das suas, também minhas palavras... vou comentar apenas com esta pergunta composta:

    O que é mais relevante? O que te define segundo os padrões estabelecidos no seu texto acima? O que já te definiu mesmo não te definindo mais, mas contando a sua história? Ou o que vai te definir e só você sabe disso e quem te analisa com uma sensibilidade e sobriedade descomunal? O que podemos definir como relevância neste caso? Será que "somos" definíveis por um ser parametrado ou apenas "estamos"?

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  3. Com certeza nossas escolhas passadas servem pra definir "quem somos" como um todo.
    Elas nos "dão crédito".

    Mas, essa é a forma como o mundo é... Como as pessoas julgam ser correto.
    Será que isso é realmente correto?

    Eu não sei... Porque eu faço uso disso.
    Nossa amizade, por exemplo, só é mantida pelo que já foi... Não pelo que é. Porque atualmente ela não é nada.
    Não nos vemos há mais de 1 ano...
    Então por que somos amigos?
    Por nossas escolhas no passado... Pelo que já fomos.
    Porque, talvez, ainda acreditemos que seríamos caso tivéssemos a chance.

    Então, tomando sua pergunta como base, eu acredito que as escolhas tomadas durante toda a nossa vida definam quem nós somos.

    "Somos" um resultado do que já "fomos" somado ao que "estamos".

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  4. A última frase foi algo... poética

    Acredito ser isso mesmo, a verdade relativa que nos define aos olhos de cada um de forma diferente, o faz segundo um mesmo esquema, tão complexo em sua simplicidade que pode ser resumido na sua frase, ou em um milhão de estudos.

    Parabéns pela análise sóbria, fria e perspicaz.

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